sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Concursados se preocupam com vocações?

Destaco aqui um trecho do livro do Bruno Garschagen, palavras importantes sobre o cenário estatal brasileiro.
"O lado negativo era a diminuição do já pequeno espaço de mobilidade social por causa da preservação do statu quo. A saída para aqueles que estavam fora do sistema econômico da época, desde os marginais até os filhos dos aristocratas falidos, era a burocracia estatal. Joaquim Nabuco foi certeiro: o emprego público era a "vocação de todos". Nos Estados Unidos, onde havia oportunidades de prosperar no mercado privado, o emprego público era malvisto pela população como economicamente desvantajoso.
No Brasil, além de conferir certo prestígio, a opção pelo emprego público criava "uma situação contraditória em que o Estado dependia, para sua manutenção, do apoio e das rendas geradas pela grande agricultura escravista de exportação, mas, ao mesmo tempo, tornava-se o refúgio para os elementos dinâmicos que não encontravam espaço de atuação dentro dessa agricultura". Isso acontece até hoje, mas numa escala maior e sem as restrições de mercado e de escolhas daquele período.
Na época em que fiz faculdade de direito (1997 a 2001), o curso já era pré-vestibular para concurso público. No dia em que algum colega chegava com um famoso jornal de divulgação de concursos públicos debaixo do braço, era um deus nos acuda. A maioria esmagadora dos meus colegas estava ali para treinar para as provas e pegar o diploma, que garantia o acesso a cargos com vencimentos mais altos e os diversos privilégios que o serviço público oferece com o dinheiro dos impostos tirados da iniciativa privada. Da mesma forma como acontecia no século XIX, só que hoje com uma carga tributária muito mais elevada."

Bruno Garschagen, em Pare de acreditar no governo - Por que os brasileiros não confiam nos políticos e amam o Estado, p. 99; 1. ed. - Rio de Janeiro: Record, 2015.

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