Luciana
Figueirêdo*
“Não adulterarás” Êxodo 20:14
Considero que é um
conto cheio de fatos intrigantes. Lembrei-me de um fato inusitado que ocorreu,
certa vez, em um shopping da minha cidade. Estava eu comendo aquele lanche fast-food, quando uma bela moça
aproximou-se e perguntou se eu queria saber do meu futuro. Mostrei meu sorriso.
De sobrancelhas levantadas, fiz uma cara de enjoada e disse que já conhecia o
Dono dos astros. Ela também mostrou seu sorriso. Falou que eu tenho uma “luz” e
foi embora.
Não acredito em
cartomantes – é óbvio. Os que escrevem comportamento de pessoas no viés dos
signos místicos são bem astutos – já li muitas coisas engraçadas. A figura da
cartomante aparece no conto machadiano como um ser confortador em meio aos
sérios problemas de um casal de amantes apaixonados. E eu não duvido que muitos
escolham acreditar em prognósticos, mesmo sem crê-los - quando convêm
particularmente, como fez Camilo.
Narrado em terceira
pessoa, Machado conduz a história, sem revelar os fatos completamente, num jogo
de vaivém repleto de suspense e desdobramentos factuais.
Vilela, Rita e Camilo –
um triângulo amoroso que, no mínimo, adjetivo como destruidor. Os amantes são perturbados
pela inquietude da consciência moral e social. A traição é um lugar sem água,
sem comida e sem perdão. Os olhos não piscam, a boca não sorri e os ombros não
descem. Vilela mora na natureza humana. É a parte que descrevo como a confiança
quebrada. E estamos quebrados em muitas vidas. Assim como Vilela, somos
vingadores: quer por pensamentos iníquos ou atitudes externas.
Rita, a “tonta”, mostra
como a estupidez da paixão lasciva corrói o coração: “Vimos que a cartomante
restituiu-lhe a confiança e que o rapaz repreendeu-a por ter feito o que fez”.
Camilo, pesaroso, estava amedrontado por sua imaginação, que escancarava o medo
e a vergonha, diante do amigo: incomodava-o insistentemente.
“Quanto
antes, melhor, pensou ele; não posso estar assim...”
Camilo ouviu da
cartomante o que queria: “O terceiro ignorava tudo”. A consulta levou-o à casa
de seu amigo. De volta ao cenário onde arrebatou-lhe a loucura da paixão, viu
sua amante morta, que o fez conhecer que a saída mística o enganara com certa
ironia, em detrimento de seus males interiores.
Eu diria que Machado
experimentou o coração em gosto amargo, o que também é próprio da estrutura
humana pós-adâmica.
Mas
o homem que comete adultério
não
tem juízo;
todo
aquele que assim procede
a
si mesmo se destrói.
Provérbios
6:32
Perdoe-me as imperfeições de uma jovem escritora.
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*Luciana Figueirêdo é pedagoga pela UVA-UNAVIDA e trabalha há
mais de 13 anos na rede privada de ensino.