domingo, 7 de junho de 2015

Shalom - como as coisas deviam ser / parte 1

O tema proposto aqui faz parte de uma reflexão do livro Não era para ser assim, de Cornelius Platinga, da Editora Cultura Cristã, sobre a natureza humana no viés da visão da reforma protestante. Cornelius Platinga Jr. é professor de Teologia Sistemática no Calvin Theological Seminary e pastor auxiliar da Woodlawn Christian Reformed Church, Grand Rapids, Michigan. 

Li este livro em 2008. A proposta era recuperar uma antiga consciência que foi desviada ( e sempre há novas tentativas de desvio pelo movimento do relativismo secular) e alterada pelo pensamento humanista. A consciência  de nossa depravação é uma sombra, mas comumente aceita pelo Cristianismo histórico. João Calvino, um homem piedoso e com uma mente privilegiada pela graça, disseminou o ensinamento de que o homem não regenerado é incapaz de produzir meios de salvação por ser escravo de uma desarmonia em sua natureza. Diferentemente do pensamento de alguns filósofos, como Rousseau, o ser humano não é integralmente bom. A nossa luta contra os erros mostra que a natureza foi criada com a imagem de um ser harmonioso e que o que ocorre nela foi por causa de uma ruptura abismal tão profunda que as consequências levaram o homem a aceitar o pessimismo. O "você pecou" é uma acusação suavizada pelo sorriso e tom de piada. Já passou o tempo de que essa acusação chocava as pessoas. 

Não era para ser assim é um título desafiador para a visão pessimista. Tudo hoje pode ser justificado pela quebra de paradigmas em um ciclo ad infinitum. Diria que esse pensamento hegeliano é um buraco negro e não resolveu os nossos dilemas - irritabilidade existencial, solidão, sombra da morte, tédio, agonias, distorções de caráter, inquietação, separação, vergonha e falta de significado. Então, a nossa miséria é o maior problema humano. Ela entrelaça nossa existência - desde problemas no nascimento, doenças, acidentes e irritações. Essa miserabilidade tem esse poder e nossa mentalidade foi comprometida. A desarmonia que corrompeu a imagem e semelhança de Deus em nós atingiu poderosas capacidades humanas: pensamento, emoções, linguagem e atos. O rompimento da harmonia criada resiste à restauração divina dessa harmonia. Todos erram o alvo. 

Uma palavra me chamou a atenção pelo seu uso entre os judeus e cristãos: SHALOM. De acordo com o autor, os profetas sabiam das muitas maneiras pelas quais a vida pode dar errado porque sabiam das muitas formas pelas quais a vida pode dar certo (você precisa do conceito de uma parede no prumo a fim de saber se uma parede está fora de prumo). A tortuosidade humana é o campo de atuação para a possibilidade de ser aplanada. O tolo seria feito sábio e o sábio, humilde. "Sonhavam com um tempo em que os desertos iam florir, as montanhas cobririam de videiras, o choro cessaria e as pessoas poderiam dormir sem suas armas ao lado. As pessoas trabalhariam em paz e obteriam resultados. As ovelhas deitariam ao lado dos leões. Toda a natureza seria frutífera e cheia de maravilhas após maravilhas", página 23. A essa harmonia que ajunta Deus, homens e toda a criação em justiça e gozo, é que os profetas hebreus chamam de shalom, o florescimento universal, totalidade e prazer. Somente um louco é contra essa visão. Lutar pela shalom é defender a visão celestial. Hoje eu vejo que a carta de apocalipse conforta neste aspecto para o louvor dos bons (mediante a restauração proposta em Cristo) e punição dos maus ( aqueles que não se arrependem do vandalismo do pecado que perturbou a criação). A resistência natural humana à redenção também entra na conta da dívida e mostra sua real perversidade. 

Concordaríamos que, em linhas gerais, o mundo perfeito pertence a uma natureza perfeita ( o que não é a nossa). 

O salmo 51: 1 - 14 é atribuído a Davi (que o teria escrito após o adultério com Bate- Seba):

"Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias.
Lava-me completamente da minha iniquidade, e purifica-me do meu pecado.
Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim.
Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que é mal à tua vista, para que sejas justificado quando falares, e puro quando julgares." Leia mais em: Salmos 51:1-14


Resumindo, pecado é a culpa da quebra da shalom

Percebemos que "ao longo das gerações a própria natureza humana, com seu vasto misterioso amálgama de capacidade de pensar, sentir, gerir, amar, criar, responder e agir virtuosamente - isto é, com sua vasta capacidade de refletir a Deus - se torna a maior portadora e exibidora da corrupção" (página 43). 

Por Luciana Figueiredo



Constatar algumas tragédias humanas mina a esperança. Com o pecado e a culpa, não é assim. Algo pode ser feito a respeito deles. Algo já foi feito.
Cornelius Plantinga Jr. tira a poeira e o cheiro de naftalina da antiga doutrina do pecado. Ela é apresentada neste livro direta à nossa cultura e suas tendências.
A natureza e a dinâmica do pecado apresentadas para renovar nosso conhecimento e despertar nossa sensibilidade acerca de uma realidade persistente.
Cornelius Plantinga Jr. é professor de Teologia Sistemática no Calvin Theological Seminary e pastor auxiliar da Woodlawn Christian Reformed Church, Grand Rapids, Michigan.

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