A pergunta "Por
que faço (sempre) o que não quero? ¹" é quase uma confissão. Uma
indagação que incomoda e aponta. Mas não é só conversa de crentes, confessionário
ou algo parecido. Ela está entre os intelectuais, psicopatas, povos e templos
diversos. Resolvi destacar alguns pensamentos refletidos em uma diferente época
sobre a ambivalência do mal e do bem, um dos dilemas humanos e pilares
desse secularismo.
O suíço Francis
Schaeffer² já destacou em suas obras que o pensamento de John Locke (1632 -
1704) e Jean Jacques Rousseau (1712 - 1778) não solucionou o nosso dilema
incômodo existencial: quem é o homem? Absolutamente bom ou absolutamente mal?
Nem uma coisa nem outra, claro! Nem muito menos o bom selvagem, longe do
processo de civilização. Em algum lugar dentro de nós habita tanto o médico
como o monstro. É um discernimento da nossa própria sombra.
Blaise Pascoal (1623 - 1662) disse: "Como o coração do homem é oco e cheio de baixeza!".
Deve-se a ele a famosa Lei de Pascoal, a teoria das probabilidades e do
carrinho de mão de uma roda só. Não era teólogo, nem psicólogo, nem
antropólogo. Todavia, era notório seu conhecimento de si mesmo e dos outros.
Somos um amontoado de misérias e grandezas. Mas como lutar contra essa
miserabilidade e natureza corrompida? Lendo um pouco sobre a história de
Blaise, suas declarações a cerca de Jesus Cristo, desde sua conversão em 1654,
aos 31 anos de idade, após um acidente de carruagem numa das pontes de Paris,
percebo sua notável mentalidade sobre o mal e a visão cristocêntrica. Uma
declaração dele foi: “Sem Jesus Cristo, o
homem permanece no vício e na miséria. Com Jesus Cristo, o homem está imune ao
vício e à miséria. Nele encontram-se nossa virtude e toda a nossa felicidade.
Fora dele, há apenas vício, miséria, erros, trevas, morte e desespero”.
Veja alguma de suas reflexões sobre o mal que habita em nós
e que somente em Jesus, esse dilema é resolvido por meio do ato de propiciação³.
“Quem não se conhece cheio de soberba, de ambição, de
concupiscência, de fraqueza, de miséria e de injustiça é bastante cego.”
“Precisamos baixar os olhos para a terra para nos vermos
como míseros vermes, e olhar para as feras das quais somos companheiros.”
“Hoje o homem se tornou semelhante aos animais, num tal
afastamento de Deus que apenas lhe resta uma luz confusa de seu Criador.”
“O Cristianismo é
estranho: ordena ao homem que reconheça que é vil e até abominável; e
ordena-lhe que queira ser semelhante a Deus.”
“A encarnação [de
Jesus] mostra ao homem a grandeza de sua miséria pela grandeza do remédio de
que ele precisa.”
“Existe uma guerra
interior no homem, entre a razão e as paixões. Sem a razão, haveria só paixão.
Mas existe uma e outra e elas não podem existir sem guerra. O homem está
dividido dentro de si mesmo.”
“Os inimigos dos homens
não são os babilônios, mas as suas paixões.”
“Se o homem se eleva,
eu o rebaixo; se ele se abaixa, eu o levanto e o contradigo sempre até que ele
se compenetre de que é um monstro incompreensível.”
“Sem a graça de Deus o
homem não é senão um sujeito cheio de erros inapagáveis.”
“Nós não somos senão mentiras,
duplicidades, contrariedades. Nós nos escondemos e nos destruímos a nós mesmos.”
“Somos tão presunçosos
que gostaríamos de ser conhecidos em toda a terra e também daqueles que virão
quando não estivermos mais aqui. Somos tão vaidosos que a estima que nos rodeia
nos ilude e nos deixa contentes.”
“Nascemos injustos e
depravados.”
“Estamos cheios de
concupiscência; portanto cheios do mal. Assim deveríamos odiar a nós mesmos e a
tudo o que nos excita a outro vínculo que não seja somente Deus.”
“Salvo o Cristianismo,
nenhuma religião ensinou que o homem nasceu no pecado. Nenhuma escola
filosófica o afirmou. Nenhuma, pois, disse a verdade.”
“Jesus Cristo não fez
outra coisa senão ensinar aos homens que eles eram amantes de si mesmos, escravos,
cegos, doentes, infelizes e pecadores.”
“Perdemo-nos nos vícios
e não vemos mais a virtude.”
Essas frases foram
extraídas do livro Pensamentos, de Blaise Pascoal – São Paulo: Folha de São
Paulo, 2010, p. 37. Todo o texto é baseado no livro César, Elben M. Lenz, Por
que (sempre) faço o que não quero? – Viçosa, MG: Ultimato, 2011.
Eu não fico tão perplexa
com a atuação do mal do homem, mas com a graça escandalosa de Deus que colocou
o seu Filho o castigo que nos traz a paz (Isaías 53:5). Ter a mente de Cristo é
o dever de todo cristão. Essa é a mentalidade que transforma o homem. Em
Cristo, vejo quem eu sou de verdade. Soli Deo Gloria!
Por Luciana Figueiredo
Notas:
1. César, Elben M.
Lenz, Por que (sempre) faço o que não quero? – Viçosa, MG: Ultimato, 2011.
2. Francis Schaeffer
foi um dos principais pensadores evangélicos contemporâneos que procurou
compreender a cultura secular. Leia mais em: http://www.labri.org.br/#!francis-schaffer/cyfa.
3. “Propiciação” é aquele
ato sacrificial pelo qual Deus se torna propício. Isso não ajuda muito, não é?
“Propício” significa simplesmente favorável. Ou seja… dizer que a propiciação é
um ato pelo qual Deus se torna propício, é dizer que é um ato pelo qual se
torna favorável a nós. Ele é contrário a nós em certo sentido em ira, mas
agora, por meio desse ato sacrificial, ele se torna favorável a nós. É
propiciação.
“Expiação” é o ato pelo
qual o pecado é cancelado. É anulado. Apagado do registro. Então o objeto da
expiação é o pecado. O objeto da propiciação é Deus. Deus se torna favorável.
Veja mais em: http://www.revistamonergista.com/2014/04/o-deus-presente-1114.html.
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