quinta-feira, 4 de junho de 2015

Um drama amplamente reconhecido

A pergunta "Por que faço (sempre) o que não quero? ¹" é quase uma confissão. Uma indagação que incomoda e aponta. Mas não é só conversa de crentes, confessionário ou algo parecido. Ela está entre os intelectuais, psicopatas, povos e templos diversos. Resolvi destacar alguns pensamentos refletidos em uma diferente época sobre a ambivalência do mal e do bem, um dos dilemas humanos e pilares desse secularismo.  

O suíço Francis Schaeffer² já destacou em suas obras que o pensamento de John Locke (1632 - 1704) e Jean Jacques Rousseau (1712 - 1778) não solucionou o nosso dilema incômodo existencial: quem é o homem? Absolutamente bom ou absolutamente mal? Nem uma coisa nem outra, claro! Nem muito menos o bom selvagem, longe do processo de civilização. Em algum lugar dentro de nós habita tanto o médico como o monstro. É um discernimento da nossa própria sombra. 

Blaise Pascoal (1623 - 1662) disse: "Como o coração do homem é oco e cheio de baixeza!". Deve-se a ele a famosa Lei de Pascoal, a teoria das probabilidades e do carrinho de mão de uma roda só. Não era teólogo, nem psicólogo, nem antropólogo. Todavia, era notório seu conhecimento de si mesmo e dos outros. Somos um amontoado de misérias e grandezas. Mas como lutar contra essa miserabilidade e natureza corrompida? Lendo um pouco sobre a história de Blaise, suas declarações a cerca de Jesus Cristo, desde sua conversão em 1654, aos 31 anos de idade, após um acidente de carruagem numa das pontes de Paris, percebo sua notável mentalidade sobre o mal e a visão cristocêntrica. Uma declaração dele foi: “Sem Jesus Cristo, o homem permanece no vício e na miséria. Com Jesus Cristo, o homem está imune ao vício e à miséria. Nele encontram-se nossa virtude e toda a nossa felicidade. Fora dele, há apenas vício, miséria, erros, trevas, morte e desespero”.

Veja alguma de suas reflexões sobre o mal que habita em nós e que somente em Jesus, esse dilema é resolvido por meio do ato de propiciação³.

“Quem não se conhece cheio de soberba, de ambição, de concupiscência, de fraqueza, de miséria e de injustiça é bastante cego.”

“Precisamos baixar os olhos para a terra para nos vermos como míseros vermes, e olhar para as feras das quais somos companheiros.”

“Hoje o homem se tornou semelhante aos animais, num tal afastamento de Deus que apenas lhe resta uma luz confusa de seu Criador.”

“O Cristianismo é estranho: ordena ao homem que reconheça que é vil e até abominável; e ordena-lhe que queira ser semelhante a Deus.”

“A encarnação [de Jesus] mostra ao homem a grandeza de sua miséria pela grandeza do remédio de que ele precisa.”

“Existe uma guerra interior no homem, entre a razão e as paixões. Sem a razão, haveria só paixão. Mas existe uma e outra e elas não podem existir sem guerra. O homem está dividido dentro de si mesmo.”

“Os inimigos dos homens não são os babilônios, mas as suas paixões.”

“Se o homem se eleva, eu o rebaixo; se ele se abaixa, eu o levanto e o contradigo sempre até que ele se compenetre de que é um monstro incompreensível.”

“Sem a graça de Deus o homem não é senão um sujeito cheio de erros inapagáveis.”

“Nós não somos senão mentiras, duplicidades, contrariedades. Nós nos escondemos e nos destruímos a nós mesmos.”

“Somos tão presunçosos que gostaríamos de ser conhecidos em toda a terra e também daqueles que virão quando não estivermos mais aqui. Somos tão vaidosos que a estima que nos rodeia nos ilude e nos deixa contentes.”

“Nascemos injustos e depravados.”

“Estamos cheios de concupiscência; portanto cheios do mal. Assim deveríamos odiar a nós mesmos e a tudo o que nos excita a outro vínculo que não seja somente Deus.”

“Salvo o Cristianismo, nenhuma religião ensinou que o homem nasceu no pecado. Nenhuma escola filosófica o afirmou. Nenhuma, pois, disse a verdade.”

“Jesus Cristo não fez outra coisa senão ensinar aos homens que eles eram amantes de si mesmos, escravos, cegos, doentes, infelizes e pecadores.”

“Perdemo-nos nos vícios e não vemos mais a virtude.”

Essas frases foram extraídas do livro Pensamentos, de Blaise Pascoal – São Paulo: Folha de São Paulo, 2010, p. 37. Todo o texto é baseado no livro César, Elben M. Lenz, Por que (sempre) faço o que não quero? – Viçosa, MG: Ultimato, 2011.

Eu não fico tão perplexa com a atuação do mal do homem, mas com a graça escandalosa de Deus que colocou o seu Filho o castigo que nos traz a paz (Isaías 53:5). Ter a mente de Cristo é o dever de todo cristão. Essa é a mentalidade que transforma o homem. Em Cristo, vejo quem eu sou de verdade. Soli Deo Gloria!

Por Luciana Figueiredo

Notas:

1. César, Elben M. Lenz, Por que (sempre) faço o que não quero? – Viçosa, MG: Ultimato, 2011.

2. Francis Schaeffer foi um dos principais pensadores evangélicos contemporâneos que procurou compreender a cultura secular. Leia mais em: http://www.labri.org.br/#!francis-schaffer/cyfa.

3. “Propiciação” é aquele ato sacrificial pelo qual Deus se torna propício. Isso não ajuda muito, não é? “Propício” significa simplesmente favorável. Ou seja… dizer que a propiciação é um ato pelo qual Deus se torna propício, é dizer que é um ato pelo qual se torna favorável a nós. Ele é contrário a nós em certo sentido em ira, mas agora, por meio desse ato sacrificial, ele se torna favorável a nós. É propiciação.

“Expiação” é o ato pelo qual o pecado é cancelado. É anulado. Apagado do registro. Então o objeto da expiação é o pecado. O objeto da propiciação é Deus. Deus se torna favorável. Veja mais em: http://www.revistamonergista.com/2014/04/o-deus-presente-1114.html.






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